World English é uma fase na história da língua inglesa que
vivenciou a expansão língua materna (falantes nativos) para segunda língua e
língua estrangeira (falantes não nativos). O linguísta Braj Kachru categoriza este
uso expandido da língua em círculos que objetivam representar as variações do
inglês de acordo com o tipo de expansão da língua, com os padrões de aquisição
e com as funções da língua nos diversos contextos sociais em que circula. Para
tanto, temos o Inner Circle, classificado
pelo uso da língua por falantes nativos do inglês; Outer Circle, classificado pelo uso por falantes de inglês como
segunda língua; Expanded Circle,
falantes de inglês como língua estrangeira.
No ano de 2012, a empresa English First (EF) fez uma pesquisa
sobre o nível de proficiência da língua inglesa em diversos países do mundo.
Através desta pesquisa, fica fácil evidenciar que o nível de proficiência da
língua está diretamente relacionado ao papel que esta exerce na sociedade. Os
países que utilizam o inglês como segunda língua (outer circle) tendem a ter maior nível de proficiência da língua.
Temos como exemplo Singapura que está colocada na 12ª posição do ranking
mundial de nível de proficiência na língua, sendo classificada como um dos países
que possui alto nível de proficiência no mundo; e a Índia que ocupa a 14ª posição,
com classificação de nível de proficiência moderada.
Em contrapartida, temos uma
descendente no nível de proficiência quando analisamos os dados de países que
utilizam o inglês como língua estrangeira (outer
circle). Neste caso, temos a Coréia do Sul e o Japão ocupando as 21ª e 22ª
posições no ranking de nível de proficiência, sendo classificados como países
que também possuem um nível de proficiência moderada. Por fim, temos o Brasil
ocupando a 46ª posição do ranking, sendo classificado como um dos países que
possui um dos mais baixos níveis de proficiência do mundo e da América Latina.
Se considerarmos que Brasil,
Japão e Coréia são países que ensinam o inglês como língua estrangeira, afim de
que esta seja utilizada como a língua que pode possibilitar a ligação de uma
nação com o mundo, a pergunta que nos resta fazer é: por quê o resultado do Japão
e da Coréia difere tanto do resultado do Brasil? A resposta para esta pergunta
é muito complexa, pois há um grande número de variáveis que envolvem a análise
de dados educacionais de um país. Todavia é possível fazer algumas inferências
com base nos dados apresentados por Kirpatrick (2010).
Com base nas discussões de Takeshita
(2010) sobre o ensino do Inglês no Japão e na Coréia, é possível observar que política
educacional estabelecida por estes países possui uma forte ênfase em relação ao
ensino da língua inglesa. O forte desejo pela internacionalização impulsiona o
ensino da língua independentemente de seu uso em contextos específicos. Japão e
Coréia contam com uma política maciça de ensino de ensino e uso da língua, pois
aumentar o nível de proficiência de seus falantes é uma meta estabelecida pelo
Governo como uma medida de crescimento sócio-econômico-cultural do país.
No caso do Brasil, nossos
resultados em relação ao nível de proficiência demonstram que temos um longo
caminho para ampliação das nossas relações internacionais, para a oferta de
melhores salários, para a promoção de inovação e de trabalhos de pesquisa. Ainda
nos falta a cultura para o ensino do inglês como parte da essência que
impulsionará o desenvolvimento do nosso país. Ainda estamos muito presos a
concepções da necessidade do inglês em detrimento de determinados contextos. Estamos
fortemente vinculados a uma cultura de que o ensino básico e o superior não têm
condições de ensinar inglês no currículo. Para Takeshita (referência), a busca
por um melhor inglês prevê sacrifícios culturais, financeiros e pessoais.
Apesar das barreiras que o Brasil
tem enfrentado em relação ao ensino do inglês como língua estrangeira, é
importante ressaltar que o país está investindo no ensino da língua através de
diversos programas federais e estaduais de educação. Um dos exemplos é a
iniciativa do Governo Federal, responsável pelos programas Inglês e Ciência sem
Fronteiras, outro exemplo é a iniciativa do Governo Estadual, responsável pelo
programa de Intercâmbio Cultural do Centro Paula Souza. Iniciativas como estas
motivam a aprendizagem da língua inglesa fora do Brasil, mas ainda precisamos
de mais esforços para que a língua seja ensinada de forma efetiva no currículo
da educação básica e do ensino superior.
Em relação ao ensino superior,
mais especificamente, no ensino superior tecnológico oferecido nas Faculdades
de Tecnologia no Estado de São Paulo (FATEC), uma autarquia do Governo do
Estado, um projeto pioneiro tem trazido resultados satisfatórios. Até o ano de
2008, o ensino da língua nas FATEC tinha como principal objetivo o desenvolvimento
da habilidade de leitura. A disciplina língua inglesa era oferecida no
currículo, com uma carga-horária total máxima 80 horas, subdividida em dois
semestres com 40 horas cada.
A partir de 2008, o cenário muda
por completo: empresas nacionais o e multinacionais reúnem-se com as FATEC para
discutir a possibilidade de um ensino de inglês diferenciado, um ensino que
possa contribuir com a efetiva inserção do dos nossos alunos no mercado de
trabalho. O ponto central da discussão
foi o denominado “apagão da mão de obra”, pois o Brasil além de não conseguir
formar anualmente o número de profissionais necessários às demandas do mercado
de trabalho, os que são formados não conseguem utilizar a língua em suas
interações cotidianas.
A fim de atender a tal
necessidade, o currículo dos cursos de tecnologia das FATEC é reestruturado e a
língua inglesa passa a ser oferecida nos seis semestres de curso, totalizando
240 horas de estudos com foco na comunicação e nível de proficiência final A2+-B1
(CEF). Os resultados das primeiras turmas de projeto já foram analisados e
trazem dados muito positivos e significativos para o ensino de inglês neste
contexto. Após três anos de curso é possível evidenciar que 60% dos alunos
atingem o nível B1 (CEF), pois trata-se de alunos que entram no curso com nível
de conhecimento false beginner e 40% de real
beginner que atingem o nível A2 (CEF).
Portanto, independentemente das
variações linguísticas e variáveis de contexto, uma política educacional massiva
e com objetivos bem delineados pode contribuir com o ensino efetivo da língua
nas escolas de educação básica e ensino superior, quebrando mitos e barreiras
em relação ao ensino da língua nestes contextos.
Simone Telles Martins Ramos
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